sexta-feira, 17 de abril de 2015

ACT#07



ACT 07

O filme “Ruínas” é um documentário expressivo com uma sucessão de imagens com uma perspetiva bastante observadora e captadora, porque capta os espaços que o país esqueceu e deixou para trás, mas não despareceram. Muitos permanecem, esquecidos, de pé com uma dignidade silenciosa, abandonados, mas não vencidos. Ninguém repara neles mas eles continuam ali.
“Há quanto tempo ninguém andava por aqui? Quem se lembra ainda do que aqui se passou?” são questões que se colocam ao refletir sobre o filme.
Este filme mostra fragmentos de espaços e tempos, restos de épocas e locais onde apenas habitam memórias e fantasmas, capta os vestígios de coisas sobre as quais o tempo, os elementos, a natureza e a própria ação modificaram e modificam.
E como o tempo, tudo deixa de ser e transformam numa outra coisa per si.
Faz nos refletir sobre os lugares que deixaram de fazer sentido, de ser necessários, de estar na moda e vejo, tristemente, que são os lugares esquecidos, obsoletos, inóspitos e vazios. Não mostra a origem nem a razão da existência destes lugares nem o porquê foram transformados ou abandonados, mas a promover uma ideia poética sobre algo que foi e é parte da história deste País.


Manuel Mozos pretendeu filmar os espaços vazios e povoá-los, dar-lhes vozes, sons, fazê-los habitar por fantasmas que, se calhar, não eram os fantasmas desses espaços mas sim aqueles que acabaram de chegar e instalar-se.
Manuel Mozos deu a vida a estes sítios degradados e é isso que torna o filme interessante e fascinante, porque captou o retrato de um Portugal mais de misérias do que de grandezas. No meio de todas as imagens estáticas e textos melancólicos percebe-se que o objetivo era povoar estes espaços que já foram povoados em tempos por outros, com sons e vozes e habitar os espaços com fantasmas novos que não expulsam os velhos mas que se juntam a eles.
É, deste modo que o nosso bairro deve ser retratado: não no geral, mas sim no particular; e recuperando a essência que pode estar ou não perdida. O objetivo é dar vida ao bairro, através do que já teve, do que tem e do que ainda pode vir a ter.
Por fim, gostei do filme pois traz um olhar poético sobre os espaços esquecidos e faz nos questionar qual a relação entre lugares e memórias e entre narrativas e espaços? Surgem outros locais e outras construções abandonados: um bairro silencioso, um restaurante, um cinema, um complexo balnear, uma igreja, uma casa abandonada e uma fábrica em ruínas e os habitantes atuais são invisíveis. E fez-me perceber que é desta maneira que o nosso bairro deve ser retratado por particularidade. Devemos procurar a sua essência “esquecida” para lhe podermos dar vida.


“Berlin, A Sinfonia de uma Cidade”, Walter Ruttmann
Este filme mostra o dia-a-dia da cidade inteira e capta a vida cultural, a educação, as relações e o movimento das ruas, mostrando aquilo que faz da cidade de Berlim uma cidade ativa e cheia de energia, 24 horas por dia.
É um filme mudo, pois ironicamente o nome do filme é “A Sinfonia de uma Cidade” e supostamente “sinfonia” é um conceito ligado ao som, mas este filme indica que é uma sinfonia visual e permite que vejamos muitos aspetos importantes da cidade, todos os elementos que constituem a sua identidade e a sua essência, mostrando a história toda da cidade.
Os carros passam, os comboios também, as pessoas continuam a andar discretamente e a vida da cidade é transmitida sempre com um olho observador, que é a camara.
Percebe-se que o objetivo do filme é apresentar o quotidiano da cidade, do ambiente, dos sons, dos ruídos e o movimento, que não tem a ver com o quotidiano das pessoas.
Por fim, considerei este filme interessante porque ele próprio, mesmo sem som, consegue mostrar visualmente tudo o que faz de Berlim uma cidade, mostra ainda todos os elementos essenciais para sua identidade de uma forma interessante e acho também sugestivo para o trabalho do bairro, pois pode sugerir o que nós possamos filmar a rotina diária do bairro, procurar todos os elementos que o constroem e que o levam a ser como é, para que possamos captar o espírito de bairro e transmitir através do filme sem proximidade dos habitantes, só com a distância e com as observações.


“FANTASIA LUSITANA”: tudo pela Nação, João Canijo, 201º
É um filme português e um documentário que mostra e explora a relação do povo português com os estrangeiros refugiados da Segunda Guerra Mundial, mostrando a forma como a sua hospitalidade e estadia dos estrangeiros no nosso País o influenciou ou não e mostra o nosso olhar sobre a Guerra. Vemos que há a procura pela herança cultural deixada pela sua passagem e constitui-se uma leitura interessante da história portuguesa do século XX por partir das imagens de arquivo e da leitura de testemunhos desses refugiados.
O filme mostra como o Portugal de hoje decorre de ontem ou como o Portugal de ontem continua no Portugal de hoje. “Fantasia Lusitana” mostra muitos de elementos motivadores como o clima quente e convidativo das terras lusitanas.
O filme mostra que os portugueses seguiam o princípio “Tudo pela Nação” nos anos 40 e o título do filme sugere a felicidade ilusória, que se vivia em Portugal quando o resto do mundo enfrentava uma guerra.
Portugal era um dos países mais seguros e esta segurança trouxe a felicidade ilusória a muitos imigrantes em busca da vida melhor em oposição ao povo português que vivia oprimido e muitos na miséria. Por outro lado, os emigrantes que se sentiam em sofrimento por saberem estar de passagem pelo nosso país fugindo do nazismo para embarcar nos barcos para a América.


“Tudo pela Nação” são as primeiras palavras que se ouvem e são as palavras que ilustram os moços lusitanos que erguem bandeiras como propaganda sensacionalista, levada a extremos, que pregava a neutralidade do nosso país em relação à II Guerra Mundial, mas a guerra que afetava os portugueses era outra, que tinha a ver com as dificuldades económicas com que o povo se debatia para sobreviver.
Este filme mostra o lado mais divertido do Portugal nos anos 40, por um lado, mostrando uma face irrealista, fantasiosa, transparecendo ser um paraíso de paz, alheio ao que se passava no resto da Europa, por outro lado apresenta o sofrimento dos emigrantes que vinham fugidos da guerra e se encontravam de passagem, e ainda o sofrimento do povo português, que vivia outra guerra, a da sobrevivência. Nós podemos tentar descobrir e mostrar o lado mais divertido do bairro contrariando a maneira habitual e, também o outro lado mais obscuro.

Sem comentários:

Enviar um comentário