Herberto Helder
«Queria fechar-se inteiro num poema» - Herberto Helder
Foi o “maior poeta português da segunda metade do
século XX” escondendo-se sempre por trás das suas poesias, não se mostrava
publicamente nem dava entrevistas, porque não queria ser notícia a não ser pela
sua poesia. Foi considerado um poeta misterioso.
Homem dos sete ofícios, porque foi o maior Ícone da poesia
portuguesa do (pós)-surrealismo.
Esta fotografia é única porque foi a última tirada em vida.
Nasceu na ilha da Madeira a 23 de Novembro de 1930 e morreu
no dia 23 de Março de 2015, em Cascais, vítima de ataque cardíaco. Foi um dos
mais originais poetas portugueses.
Frequentou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
e de Lisboa, trabalhou como jornalista, bibliotecário, tradutor e apresentador
de programas da rádio tendo feito muitas viagens por diversos países da Europa
a trabalho.
Estreou-se pela primeira vez como poeta através da
publicação de “O Amor em Visita” em 1958, tendo sido o seu primeiro livro.
Em 1994 foi vencedor do prémio Pessoa, o tal prémio que ele
próprio recusou.
A sua última publicação foi o livro “ A Morte sem Mestre”,
que é uma criação rara, porque vem incluído um CD com poemas citados pelo próprio
Herberto Helder.
Neste CD cita cinco poemas sendo um deles: “Se um destes
dias parar não sei se não morro logo” e este foi o seu último livro publicado
em Junho de 2014.
Sobre um Poema
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
"A Morte sem Mestre" com cinco poemas:
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