James
Joyce, Retrato do Artista quando Jovem
Foi
o primeiro romance do escritor irlandês James Joyce, publicado em 1916.
“Retrato
do artista quando jovem” não é só uma obra autobiográfica, mas representa muito
mais do que isto, narra e relata a viagem ou a trajetória de “um homem em
busca do pleno conhecimento de si mesmo”.
Em
“Retrato do artista quando jovem”, Joyce estabeleceu pela primeira vez o
simbolismo que se centrou nas suas obras posteriores, mas “Retrato do artista
quando jovem” é uma obra fechada em si mesma que expõe todos os componentes dos
grandes romances e contém todos os elementos que fizeram da ficção de James
Joyce um marco da literatura contemporânea.
Conta
as experiências de infância, adolescência e juventude de Stephen Dedalus,
alter-ego do autor, ou seja, a difícil passagem da adolescência à maturidade, a
busca do sentido da vida e da arte, a emergência do indivíduo frente à
sociedade. A parte mais interessante do livro é mostrar este crescimento
através da evolução na linguagem do personagem, que no começo é mais simples e
vai ganhando complexidade conforme ele vai crescendo.
No decorrer da obra a prosa evolui estilisticamente, conforme o próprio Stephen
que começou a narrar de maneira mais sofisticada e evoluída.
O Retrato do Artista é um romance de
formação, tipo de romance em que é exposto de forma pormenorizada o processo de
desenvolvimento físico, moral, psicológico, estético, social ou político de uma
personagem, geralmente passando por fases da sua vida (infância, adolescência,
adulta, maturidade).
Na
sua trajetória, a protagonista enfrenta os conflitos internos, especialmente
das ideias religiosas e filosóficas e também a reflexão sobre o próprio papel da
arte.
Ao
realizar, Stephen Dedalus conquistou um retrato do artista que Joyce se
tornaria, com a revolução do romance no século XX.
O
livro terminou com a recriação de seus ritos de passagem para a idade adulta,
que acabou por deixar para trás a família, os amigos e a Irlanda e ir viver no
continente.
De um modo geral são retratados temas complexos, como a separação da família ainda criança para viver num colégio interno, a convivência com colegas e padres, a perceção das diferenças sociais e da instabilidade econômica da sua família.
Em
uma boa parte do livro o autor expõe seu ponto de vista sobre os dogmas da
igreja católica, visto que ele foi convidado a entrar para o sacerdócio,
a descoberta do sexo e da noção de culpa e pecado, as limitações da vida na
Irlanda e suas teorias sobre estética.
Por
fim, ao ler o livro transportou me para as minhas recordações, que são
semelhantes às dele, como por exemplo “ a pequena canção que o gás fazia”, “e
quando apertava os pavilhões das orelhas o estardalhaço que se fechava como um trem
entrando num túnel”, “ puxa a cara para cima, assim como que a dizer boa
noite e então a mãe abaixava o seu rosto (…) punha os lábios na sua face (…)
faziam um barulhinho diminuto: bift!”, “o barulho que faziam os meninos comendo
no refeitório (…)” e por fim, “ período letivo, férias: túnel, fora, barulho,
silêncio”.
Intrigou me, ao ler numa parte da história que, narrando a infância, afirma o
dia da nossa primeira comunhão é o dia mais feliz da nossa vida pelos vistos, o
fato dito curiosamente no livro em que um grupo de generais perguntava a
Napoleão qual fora o dia mais feliz da vida dele e era suposto que ele
respondesse que seria o dia em que tinha ganho alguma grande batalha ou o dia
em que ele se tornou Imperador mas ele respondeu:
“-Cavalheiros,
o dia mais feliz da minha vida foi aquele em que fiz a minha primeira santa
comunhão.”
Uma coisa que me deixou ainda mais intrigada foi, quando o pai de Stephen colocou a
questão para reflexão o que seria dos padres se não fossem padres, o pai
referiu que seriam sábios, pessoas inteligentes, mas era difícil de imaginá-los
neste ponto.
Chocou
e comoveu me quando li uma experiência torturante e vivida durante a infância
quando levou as palmatórias injustamente sem motivos e o Stephen sublinhou que
esta experiência fora horrível.
Apreciei
muito com este livro, porque me permitiu aceitar uma perspetiva diferente e ainda conhecer a vida dele, as suas experiências e acho muito importante que ele as
tenha partilhado com todos nós.
Soube que a personagem Stephen
Dedalus aparece novamente noutra obra de James Joyce, o grande romance"
Ulisses".
Sem comentários:
Enviar um comentário